domingo, 21 de fevereiro de 2016

O perigo ali tão perto



21 de Fevereiro

Bastam segundos para que um acidente aconteça e no que diz respeito às crianças o perigo espreita em todo o lado. Mesmo de onde menos imaginamos.
A Luísa não simpatiza com sapatos. Normalmente é uma luta quase diária entre nós as duas. Eu ponho, ela tira, eu ponho, ela tira. Até que uma de nós se cansa e a outra ganha.
Ontem gostava de ter perdido.

Calcei-a com umas sapatilhas tipo All Star, que por terem cordões, são as que mais dificilmente consegue tirar. Metemo-la no carro e fomos os três todos contentes aproveitar o sol à beira-mar.

Eu e o J. a falar descansados durante a viagem – sim, porque ter filhos é muito lindo, mas às vezes damos por nós dias, semanas sem conseguir ter uma conversa de jeito – e a Luísa atrás. Ouvimo-la tossir, mas nada de mais.

“Trouxeste comida no carro? Cheira-me a comida.”, perguntou-me o J. “Trouxe o iogurte, mas isso não cheira. A mim não me cheira a nada, mas também estou com o nariz entupido”. E foi isto quase cinco minutos antes de chegarmos ao destino.

Quando a vamos tirar do carro dou por ela toda vomitada de sopa, muito quieta e de olhos arregalados. Pensei logo que lhe tinha dado sopa a mais e que por isso ela teria ficado cheia. Comecei a limpá-la. Estava tão suja, que tivemos que lhe trocar a roupa toda no carro.

Quando lhe estou a limpar o pescoço vejo – atenção que vou praguejar – a MERDA de um pictograma todo dobrado e percebi o filme.
A meio da viagem a Luísa deve ter conseguido tirar uma das sapatilhas, que dentro tinha colado no forro um pictograma com a composição das sapatilhas, pô-lo na boca, engoliu-o, mas entalou-se e isso – Graças a Deus meu amiguinho!! – fez com que ela vomitasse mandando aquela porcaria fora e evitando assim que uma desgraça acontecesse, enquanto eu e o J. falavamos tranquilamente ali, a menos de um metro de distância.

Fiquei tão danada comigo mesma, quando percebi o cenário, que já nem a conseguia vestir em condições. Naquele momento uma pessoa só pensa em castigar-se, dar umas bofetadas a si mesma.

Bem sei que os bebés têm reflexos contra o engasgamento e que passa pelo vómito e ainda bem que ela o conseguiu fazer, mas na cabeça de uma mãe fica sempre a pergunta “E se não o conseguisse fazer daquela vez?”. De arrepiar. À noite, na cama, ainda me lembrava daquele momento. Já passou, mas ficou de lição: ter extra cuidado com etiquetas ou autocolantes que possam estar na roupa ou calçado. Numa fase em que a Luísa põe tudo à boca qualquer coisa serve para nos pregar um grande susto.

Já agora deixo aqui um desafio a quem faz calçado ou roupa para crianças: e se fossem colar pictogramas na testa? Raio de ideia! Nem sei se é legal ter pictogramas transparentes em artigos de bebé. Pendurem antes uma etiqueta com a composição do artigo, que vai dar ao mesmo e é mais seguro.
Nenhuma mãe quer ter o perigo mesmo juntinho à sua criança.

Quanto a mim? Olhos bem abertos e nem vou contar isto à Pediatra senão ela vai-me contar, mais uma vez, das vezes que já salvou crianças por se terem entalado. Cruzes credo! Bate três vezes na madeira! Isola!

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