domingo, 4 de outubro de 2015

A separação



04 de Outubro

Minha Luísa Apressada,

Amanhã deixamos de ser uma só e passamos a ser duas pessoas diferentes. Foram 236 dias dedicados só a ti. Primeiro a guardar-te bem quentinha para que não nascesses ainda no Inverno, depois a lutar contigo dia a dia para que vencesses os bichos maus e saísses do Hospital o quanto antes, e nos últimos meses a consolar-me de dar mimo e ver-te crescer.

Prometo que não vou chorar, quando te entregar à tia G., até porque ela e a avó D. vão tomar conta de ti e não podias estar em melhores mãos. Mas sei que uma parte de mim vai ficar triste, muito triste, porque provavelmente posso não ter a sorte de te ver a sentar direitinha pela primeira vez ou ouvir a palrar “ma-ma-ma”, ver-te a gatinhar ou a cuspir a sopa.

No que a ti diz respeito sou egoísta, sou. Queria que todas as tuas primeiras conquistas fossem sempre presenciadas por mim e pelo papá. Mas não pode ser assim e está na hora de ganhares umas mini-asinhas. Está na hora de te habituares a novas caras que não só a minha. Está na hora de te descolar da minha pele e deixar-te respirar por ti própria.

Eu também preciso de respirar por mim própria e recuperar um bocadinho a minha vida. 236 dias dedicados só a ti é muito tempo e uma mãe habitua-se facilmente a este namoro com um filho. O mundo fica em suspenso e pouco nos importa o resto. Está na hora de voltar ao trabalho, pensar noutras coisas que não temas de puericultura, ver outras caras, ter outros horários.

E quem sabe aprendas amanhã o que é ter saudades e quando eu te for buscar me dês o sorriso mais bonito do mundo. Eu vou ficar a esperar que assim seja e assim não será tão dolorosa esta nossa separação.

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