quinta-feira, 26 de março de 2015

Era uma vez uma espécie de SPA



26 de Março

No reino das grávidas de risco, em jeito de brincadeira, costumávamos dizer que como não tínhamos dinheiro para ir repousar para um SPA verdadeiro tínhamos vindo para esta espécie de SPA, o Hospital.
O dia-a-dia resumia-se a comer, dormir, fazer traçados, falar com as médicas e as enfermeiras e receber visitas. Só faltavam mesmo as massagens dadas por rapazes altos e espadaúdos (brincadeirinha amor!) e os serviços de estética, muito precisos!
As noites eram tranquilas, os tratamentos dentro dos possíveis aceitáveis e a comida não sendo gourmet não era má de todo na maioria dos dias. Eu pelo menos sou bom garfo e quase tudo “marcha”.
Volta e meia eramos sobressaltadas pelo alarme de alguma pulseira de um bebé que teria saído, mas com o tempo até a esse som nos fomos habituando. Quando tocava dizíamos que lá ia um fugitivo, porque apesar de tudo todas nos sentíamos um pouco prisioneiras desta espécie de SPA, só não tínhamos pulseira eletrónica na perna como os bebés.

Mas esta semana tudo mudou. Não sei se é do tempo, da lua ou de um alinhar de várias condicionantes, mas deixamos de estar numa espécie de SPA.
Nós, grávidas de risco, não estamos misturadas com as mães e os bebés. À noite fechamos a nossa porta do quarto e ficamos sossegadas no nosso reino. Mas esta semana, minhas amigas!! O que é isto!? Nasceu um bebé que chora tanto, mas tanto, mas tando, dia e noite que todas nós já estávamos com pena dele e da mãe.
O problema é que os decibéis do seu choro conseguiam inundar todas as enfermarias e mesmo a nossa, que é a última, deixou de ser um reino de paz. Passamos a dormir às prestações, pois ao facto de termos de nos levantar várias vezes para ir à casa de banho ainda acordávamos com o berreiro deste pequeno ser. Ele não tem culpa, mas às custas disto está a traumatizar-nos… E quando conseguia acordar os bebés todos é que era cá uma sinfonia, qual concerto de Heavy Metal for babies…

Depois começaram as alvoradas como na tropa. Normalmente a enfermeira do turno da noite vem por volta das 07h ou 07h15 medir-nos a temperatura e depois deixa-nos a dormir até às 08h para tomarmos o pequeno-almoço e começarmos os traçados já a cargo da nova equipa.
Pois esta semana, as enfermeiras da noite acharam “giro” acordar-nos antes das 07h da manhã!!! Ok que de manhã se começa o dia, mas não havia necessidade de ser TÃO cedo. Para além disso, uma delas passou a noite a entrar no nosso quarto e a acender as luzes, como quem diz quero-lá-saber-que-estejam-a-dormir. Obrigadinha!!!

Em seguida foi a comida. Uns dias esqueceram-se do nosso lanche da manhã, noutro dia faltou o jantar de uma colega minha, trocaram os menus e quem pediu carne comeu peixe e vice-versa, mandaram-me um sumo com uma mosquinha a boiar…

E dos rapazes altos e espadaúdos para nos fazerem massagens nunca ninguém os viu.

E, pronto, foi assim que acabaram com a nossa ilusão de estarmos numa espécie de SPA.

Sem comentários:

Enviar um comentário