domingo, 15 de fevereiro de 2015

A aceitação




12 de Fevereiro de 2015
 

Algumas mudanças não são fáceis de aceitar, principalmente aquelas que não esperávamos e que por norma não são propriamente boas. Primeiro é como se fosse um choque térmico, uma coisa física, que incomoda e se vai instalando. Depois, aos pouquinhos, vai-se adaptando, regulando, até que o corpo deixe a mudança entrar e passe ele a adaptar-se à nova condição.

Aceitar que ia ter de ficar muito tempo no Hospital foi assim. Logo na manhã seguinte ao meu internamento a minha convicção era de que iam ser apenas uns dias de estadia. Quando logo pela manhã as enfermeiras me vieram fazer o traçado e ouvir o bebé eu perguntava-lhes sempre se era mesmo para ficar aqui muito tempo. Elas apenas me diziam que ia ter de ficar, mas que depois a médica falava melhor comigo. Mas nenhuma me deu grandes esperanças. Contudo, na minha cabeça, isto seria coisa para uns dias e iria finalmente para casa. Era inconcebível para mim ficar aqui semanas! Não podia ser, eu ia ficar maluca.

Já de tarde, depois de ver os meus traçados a minha médica assistente veio até ao pé de mim, com uma cara muito séria e perante a minha insistência em que seriam apenas uns dias deitou por terra as minhas esperanças sem palavras meigas. Teria de ficar internada até ao fim da gravidez. Ponto.


Foi assim como arrancar um penso com muita força e de uma só vez. Primeiro custa, depois a dor vai passando.

Para o J. eu teria de aceitar o que estava a acontecer e deu-me argumentos que me fizeram pensar: se eu fosse para casa não ficaria sossegado comigo lá sozinha; se me acontecesse alguma coisa o socorro não seria tão rápido; além de que aqui, no Hospital, estaria rodeada de uma boa equipa, mais do que preparada para isto. Comecei a refletir nisto tudo e a começar a acreditar que por muito que me custasse ficar aqui teria de ser a minha nova realidade. Além de ser mais seguro para mim e a bebé, não seria justo pôr a minha família em alerta constante ou alguém ter de abdicar do trabalho para estar a cuidar de mim.

E foi com estes olhos que comecei a observar as paredes da minha nova casa, a minha mini mesinha de cabeceira e o meu armário, a observar as rotinas, as caras e a aceitar que estaria aqui muitas semanas pelo bem da Luísa, porque, uma coisa é certa, ter uma bebé de 25 semanas numa incubadora não fazia parte dos meus planos.
 

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